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O Jogo de Posição e o Counter Pressing

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Alguns dos conceitos presentes no Jogo de Posição e como um de seus produtos o Counter Pressing, que cria alterações no Fluxo Natural do Jogo

“Eu odeio essa história de passar por passar, esse tiki-taka.
Não tem propósito. Você precisa passar a bola com uma
intenção clara, com o objetivo de chegar ao gol adversário.
 Não é passar a bola só por passar. Eu odeio o tiki-taka”
(Guardiola, 2014)

Conhecido em português como Jogo Posicional, o Jogo de Posição entrou em grande evidência nos últimos anos devido ao grande sucesso das equipes treinadas por Pep Guardiola (FC Barcelona e FC Bayern de Munique) não apenas pelo alto índice de aproveitamento de pontos disputados e conquista de títulos, mas também pela identidade única que esse treinador é capaz de materializar em suas equipes em ambientes diferentes, culturas diferentes e com jogadores diferentes. Muito conteúdo foi sendo incorporado no jogo dessas equipes ao longo da passagem de Guardiola, conseguindo uma permanente evolução no jogar, ampliando variações e melhorando a eficácia técnico – tática. Independentemente do esquema tático utilizado (afinal Guardiola se utiliza de 1-4-3-3, 1-3-4-3, 1-4-2-3-1, 1-3-3-4 e outros como matriz) os conceitos do jogo proposto estão sempre presentes.
Nas figuras abaixo, ainda não serão discutidas algumas questões fundamentais para o Jogo de Posição, como por exemplo, o “time” (tempo em inglês) das movimentações para a criação de apoios livres, a posição corporal de recepção da bola, a utilização dos dois lados (ambidestrismo) com a intenção de acelerar a circulação, a velocidade da bola no passe e a questão de passe no pé e no espaço.   

Figura 1 – Aumento de Apoios com ajustes Posicionais

O Jogo de Posição é essencialmente coletivo e cada jogador deve permanentemente estar a serviço da equipe para que haja potencialização das ações. Na Figura 1 (campo da esquerda), pode-se observar que os jogadores de linha estão ocupando o espaço de uma forma a torná-lo maior em largura (Amplitude) e comprimento (Profundidade) permitindo a criação de mais espaços internos (dentro do bloco defensivo do adversário), quesito importante para um jogo de posse de bola apoiada. Porém, somente aumentar o campo de jogo em largura e profundidade não é suficiente para construir um jogo apoiado eficaz, afinal, a exploração desse espaço interno depende de cumprir bem alguns requisitos que estão na base do Jogo de Posição. Com alguns ajustes posicionais, a estruturação do espaço permite a criação de 4 apoios (vamos considerar apoios as possibilidades de passes com um nível de dificuldade relativamente baixo) ao portador da bola (Figura 1, campo da direita), dobrando as possibilidades de passe e, consequentemente, exigindo mais jogadores e melhor organização do adversário para a recuperação da bola (partindo do pressuposto de que não ocorrerão erros básicos de decisão-ação por parte do portador da bola). Nessa situação hipotética, vamos considerar que o jogador em posse, escolheu o “Apoio 1” para passar a bola.

Figura 2 – Jogo pela Faixa Central

Com a escolha de passar a bola para o corredor central, a bola entra em um espaço que permite a criação de apoios em diversas direções, porém, é importante ressaltar que cada apoio possui suas próprias características. Na Figura 2 (campo da esquerda), o portador da bola tem 5 opções de passes, sendo 1 em progressão (Apoio 1), 2 laterais (Apoios 2 e 4) e 2 passes para trás (Apoios 3 e 5). Os Apoios 3 e 5 oferecem a possibilidade de retirada da bola da “Zona de Pressão” e os passes para os jogadores que estão dando Amplitude e Profundidade são de maior dificuldade. Ao escolher o Apoio 4, mesmo mantendo a bola ainda na faixa central, uma nova gama de possibilidades é criada com os ajustes posicionais em função do movimento da posição da bola. Nesse novo cenário (Figura 2, campo da direita) o Apoio 3 oferece um passe lateral sob pressão e os Apoios 2, 5 e 6 passes fora da Zona de Pressão para trás. Os Apoios 1 e 4 oferecem saída da Zona de Pressão com características diferentes. O Apoio 1 oferece saída lateral da pressão com possibilidade de progressão na faixa lateral, enquanto o Apoio 4 uma saída da pressão para a frente com a recepção da bola entre as linhas de marcação adversárias (Movimento “Entre Linhas”). A escolha por determinados apoios tem forte relação com o tipo de tomada de decisão do jogador e com o jogo da equipe, se há uma preferência por um jogo mais vertical ou de manutenção da posse de bola, se coloca a bola em disputa frequentemente ou se prefere jogar com bola sem coloca-la em disputa.


Figura 3 – Jogo pela Faixa Lateral

Há uma tendência do número de apoios ser reduzido na faixa lateral do campo por questões óbvias do limite físico do campo. As opções podem ser criadas para trás (Apoio 4), para a faixa central (Apoios 2 e 3) e para a frente (Apoio 1) como descrito na Figura 2 (campo da esquerda). A faixa lateral do campo, ao reduzir as possibilidades com bola, torna-se uma região propícia para a recuperação da bola, portanto é fundamental, além dos apoios em progressão (Apoio 5, por exemplo), a criação de apoios para a retirada da bola dessa zona, caso a pressão seja criada pela marcação (Apoio 3, por exemplo, fora da Zona de Pressão).

Figura 4 – Os Momentos do Jogo

As equipes de futebol estão permanentemente dentro do jogo em busca de uma organização que resolva as situações que vão se desenhando no confronto. Basicamente, a organização coletiva de uma equipe, pode ser dividida em 4 Momentos: Organização Ofensiva, Transição Defensiva, Organização Defensiva e Transição Ofensiva. Os comportamentos de jogo de uma equipe estão geralmente fluindo como na Figura 4.


Figura 5 – O Counter Pressing e a alteração do Fluxo dos Momentos do Jogo

Quando uma equipe exerce “Pressing” no momento da Organização Defensiva, objetiva recuperar a bola suprimindo as “Possibilidades Operacionais” do seu adversário, ou seja, se organiza para não permitir simultaneamente a (1) manutenção da posse de bola, a (2) progressão da bola em direção ao próprio gol e a (3) proteção de qualquer possibilidade de ataque à meta defendida. Para exercer o Counter Pressing, a equipe precisa suprimir essas “Possibilidades Operacionais” imediatamente após a perda da bola (no momento da Transição Defensiva), condição essa que se faz muito elaborada porque, neste instante do jogo, a sua organização posicional e operacional está toda voltada para a Organização Ofensiva. Portanto, para se ter êxito no Counter Pressing, a equipe precisa ter um tipo de organização para jogar o jogo com total conexão entre os 4 Momentos. Cada um dos 4 Momentos deve levar em conta a organização global do jogo, sem qualquer tipo de fracionamento entre Ataque, Defesa e Transição, tanto do ponto de vista Estrutural como Operacional.

Figura 6 – Reação Posicional e Operacional à Perda da Bola

Como exemplo, vamos retornar à situação apresentada pela Figura 2 (Figura 6, campo da esquerda) em que a equipe amarela está com a bola e possui 5 apoios. Após o erro de passe (sinalizado pela seta curva laranja, no campo da direita), os jogadores que eram apoios curtos (1 e 2) e o portador da bola (jogador que errou o passe), atacam imediatamente o jogador da equipe vermelha que interceptou o passe para buscar a recuperação imediata. O ataque a bola em 3 direções diferente elimina muitas possibilidades de ação do jogador da equipe vermelha. Os jogadores da equipe amarela distantes da bola recuperam o equilíbrio posicional e diminuem o campo de jogo adversário, fechando espaços centrais, sempre respeitando zonalmente uma ocupação coletiva, afinal o Counter Pressing objetiva a recuperação rápida da bola também para uma “Economia Complexa” de energia (física, técnica, tática e mental).


Figura 7 – Reação Posicional e Operacional à Perda da Bola
Após a perda da bola na Figura 7, o jogador da equipe vermelha é atacado por 4 jogadores (aqueles que eram os Apoios 1, 2 e 3 e o jogador que errou o passe), diminuindo o tempo e as possibilidades de ação adversária. Recuperar a bola na mesma zona que foi perdida, em pouquíssimo tempo, gera inúmeras vantagens como já foi descrito. Mas principalmente, a ocupação do espaço para atacar altera-se muito pouco do ponto de vista estrutural, permitindo uma nova sequência de ataque já iniciando com um bom nível de organização. Em compensação, a troca de posse de bola pode gerar desequilíbrios no adversário que podem ser aproveitados nos instantes iniciais desse novo ataque.
O Counter Pressing pode ser construído com referências zonais ou individuais, com pressão imediata na bola, na linha de passe ou com encaixes individuais. O que é fundamental é a conexão de todos os conceitos de todos os momentos do jogo e o sincronismo com que os movimentos individuais ocorrerão dentro de um contexto coletivo.

Referência Bibliográfica

Perarnau, Marti. Herr Pep. Idioma: Espanhol. Editora: Córner – Espanha. Assunto: Biografias. Edição: 1. Ano: 2014.

Para Mais Informações

Link 7: http://www.martiperarnau.com/tactica/differences-between-sacchis-klopps-and-guardiolas-counterpressing-concepts/

Leandro Zago

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